31 julho 2008

Degelo no Ártico deve bater novo recorde em 2008, acreditam cientistas

Pesquisadores fazem apostas sobre quanto tempo a camada congelada vai durar.Especialistas acreditam que todo o mar do Pólo Norte pode virar água em poucos anos.

O derretimento da camada de gelo que recobre o oceano Ártico pode bater um novo recorde no verão de 2008, acreditam os cientistas que estudam o fenômeno. O último recorde ocorreu no ano passado. Os dados finais sobre o degelo devem sair entre agosto e setembro.

Um vídeo produzido pela Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, nos Estados Unidos, com imagens de satélites da Nasa -- é possível ver o tamanho do estrago que ocorreu em 2007. A massa de gelo oceânico se concentra bem no centro do globo (o resto são os continentes, partes da América e da Europa). A área em branco mais brilhante é a camada de gelo mais espessa, que estava por ali há anos. A parte mais acinzentada é o gelo mais recente, formado há menos de um ano. Assista ao vídeo clicando aqui

O vídeo é uma coleção de imagens que mostram a evolução dessa camada ao longo do ano de 2007, começando no inverno (que no hemisfério Norte vai de dezembro a março), passando pelo verão e voltando ao inverno. É nítida a perda de gelo mais grosso. Quando 2008 começa, a região está mais dominada pelo congelamento recente: mais fino, mais sensível ao aquecimento do planeta, que deve derreter mais fácil durante este verão.

“Os cientistas que estudam esse fenômeno estão fazendo apostas sobre quanto tempo o gelo sobre o mar vai durar”, afirmou ao G1 a pesquisadora Syndonia Bret-Harte, da Universidade do Alasca em Fairbanks, que também estuda os efeitos do aquecimento global. “Se antes acreditávamos que o gelo derreteria totalmente em 50 ou 60 anos, agora não sabemos se eles estará lá daqui a três”, afirmou. “O mundo que nossos filhos e netos terão daqui vinte anos será muito diferente”, disse a cientista. “O gelo no Ártico está sumindo e a uma velocidade muito maior do que previam até os nossos modelos mais pessimistas”, disse ela.

Sem catástrofe -- ainda

O derretimento do gelo do Ártico dificilmente causará uma catastrófica elevação dos mares do mundo, porque o gelo do mar é flutuante. Ou seja, quando ele derreter, não haverá um volume maior de água disponível. No entanto, a expansão de água líquida pode colocar em risco vilas costeiras no hemisfério Norte.

E, como o aquecimento global não está afetando apenas o Ártico, mas todo o planeta, o derretimento de geleiras em outras regiões, como a Antártida e o topo de montanhas, ameaça sim o nível do mar. “Em breve talvez seja necessário vender a casa na praia”, afirmou a cientista.

Os efeitos desse aquecimento não estão visíveis só sobre a água. Todos os anos, o gelo recobre o solo no norte do planeta. Durante o inverno, a camada é grossa o suficiente para permitir que carros e caminhões andem por cima do que está congelado. Durante o outono e a primavera, no entanto, ele fica mais mole e dirigir se torna perigoso. Ano a ano, os moradores da região já perceberam que o intervalo de tempo em que é possível dirigir sobre o gelo está ficando cada vez menor.

Os efeitos disso tudo preocupam os cientistas porque o Ártico detém, em seu solo congelado, um terço de todos os estoques de carbono do mundo –- embora corresponda a apenas um sexto da área da Terra. Isso porque a decomposição de matéria orgânica ali demora, e muito, por causa do frio. Temperaturas mais quentes estimulam a decomposição – com isso, estimulam a liberação de carbono em um planeta que já está com carbono em excesso na atmosfera.

Estudos como os divulgados em 2007 pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU (o IPCC) levam em conta apenas a liberação de carbono por atividade humana –- e já projetam alterações sérias no clima. Com o acréscimo dessa liberação “natural” do solo ártico, as coisas podem ficar ainda piores. Os cientistas não sabem se o excesso de liberação de carbono vai aumentar o aquecimento global ou gerar uma reação em cadeia que tenha um resultado de resfriamento do planeta. O que se sabe, por enquanto, é que um Ártico mais quente pode alterar as correntes marítimas -- deixando os trópicos mais aquecidos e a Europa mais gelada.

A jornalista Marília Juste viajou a convite do Laboratório de Biologia Marinha de Woods Hole, EUA.