01 setembro 2008

"Gustav" - O medo de um novo Katrina está fazendo os moradores de Nova Orleans fugirem

População de Nova Orleans se preocupa com impacto de Gustav

A população de Nova Orleans demonstrou preocupação ontem com o futuro da cidade e o impacto do poderoso furacão Gustav na cidade, três anos após o Katrina arrasar a região e deixar 80% da cidade alagada e cerca de 1.600 mortos.

A retirada da população da cidade, que começou no sábado passado, ocorreu de maneira ordenada. Cerca de dois milhões de pessoas deixaram neste domingo (31) a costa do Estado da Louisiana, em razão da aproximação do furacão.

"Vivi toda a minha vida ali, é minha cidade, mas não sei se quero voltar", disse à agência Efe Mildred Henson, 67. A aposentada abandonou Nova Orleans junto com sua filha, Alice, e um cachorro. Em 2005, Mildred viu sua casa sofrer fortes danos na passagem do Katrina.

Morador deixa Nova Orleans antes da chegada do Gustav. Governo da Louisiana exige retirada e diz que "agora é o momento de ir"

A família só pôde retornar a Nova Orleans um mês depois, e quando fez isso, a casa estava apodrecida devido à ação de fungos.

A devastação causada pelo Katrina e as imagens que deram a volta ao mundo do desamparo de dezenas de milhares de desabrigados que ficaram isolados na cidade permanecem na memória da população, apesar de a cidade ter conseguido se reconstruir aos poucos.

Mais de 60% dos habitantes retornaram, as ruas estavam limpas e muitas lojas foram reabertas. No entanto, todos os bilhões de dólares do governo federal americano, do Estado da Louisiana e do setor privado podem virar poeira outra vez perante a ameaça de Gustav.

Segundo o Centro Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês), o Gustav perdeu força ao passar por Cuba e agora é um furacão categoria três na escala de Saffir-Simpson --que pode chegar até cinco.

Contudo, o Gustav pode se fortalecer novamente nas águas quentes do golfo antes de atingir os EUA na manhã desta segunda-feira (1º).

Refugiados

"Sofrer tudo isto outra vez é cansativo", afirmou Elias Ahud, um comerciante que tem uma loja no centro da cidade. "Outra vez, estamos colocando tudo em caixas, é necessário tapar as vidraças. É possível que voltemos, mas tudo dependerá de como a cidade vai ficar."

A estudante Cindy, 19, encara a emergência com placidez. Durante a retirada, ela levou os dois filhos, o pai e a mãe para um hotel mais de 100 quilômetros ao norte de Nova Orleans. O que mais a incomodava, enquanto a região aguarda o furacão, é a insistência da mãe de que não deveria se esquecer das tarefas da universidade.

"Voltar para Nova Orleans?", questionou. "Claro, claro que sim. Depende de se teremos uma casa para a qual voltar".

O imóvel da família está em West Bank, no município de Jefferson, ao sul de Nova Orleans. A região é uma das zonas onde as autoridades apressaram a retirada dos moradores sob o temor da ressaca que o Gustav provocar.

Douglas Stern, 47, enfrenta seu retorno a Nova Orleans com pouco entusiasmo. O homem, que trabalha como carpinteiro, disse que a casa que divide com a mulher sofreu danos moderados em 2005.

Para ele, que teve bastante trabalho na reconstrução da cidade, "desde 2005, foi um problema receber pelos trabalhos: as pessoas não têm dinheiro, e lidar com as companhias de seguros é um inferno".

Retirada

Moradores de Nova Orleans lotam estradas em retirada em massa pelo furacão Gustav; cidade ainda se recupera do Katrina

As estradas da região ainda continuavam cheias de veículos em um lento êxodo no qual não parece ter ocorrido contratempos. O governador da Louisiana, Bob Jindal, destacou que não é possível ficar na cidade nem nos arredores, e que a Guarda Nacional garantirá a segurança e protegerá os bens dos cidadãos.

Jindal disse em entrevista coletiva na capital do Estado, Baton Rouge, que foi mobilizado um total de 50 mil soldados da Guarda Nacional, e que há 16 mil adicionais para que apóiem nas tarefas de socorro de desabrigados e na vigilância das áreas despovoadas.

"Agora é o momento de ir, resta tempo, levem a sério isto. Não se conformem com que algumas previsões dizem que é um furacão de categoria 3, pode ser muito, muito pior", declarou Jindal, ao insistir na mensagem reiterada pelas autoridades.

A presença de policiais e soldados da Guarda Nacional é ostensiva para manter a ordem e mostrar, além disso, que será implacável com aqueles se esconderem para cometer atos de pilhagem.

O prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin, reiterou em declarações para uma emissora local de rádio que "não haverá a menor tolerância para os saqueadores, e qualquer pessoa detida que estiver saqueando irá diretamente para a prisão".

Na cidade e nos bairros será aplicado um toque de recolher que se estenderá até o começo da manhã.