Cobertura de gelo no Pólo Norte, em 2008, regride a nível recorde, inferior a 4,13 milhões de
Estudo que será divulgado hoje pelo Fundo Mundial para a Natureza (conhecido por sua sigla em inglês WWF), aponta que 2008 deve registrar o menor nível de cobertura de gelo no Pólo Norte, inferior aos 4,13 milhões de quilômetros quadrados do ano passado, o recorde anterior.
"Há menos gelo no Ártico neste ano que em qualquer outro desde que os controles começaram", alertou Martin Sommerkorn, coordenador do programa do Ártico do WWF.
Na prática, o Ártico pode se transformar em um continente sem gelo por alguns dias do verão. Os ambientalistas alertam que as conseqüências para o aquecimento global podem ser "catastróficas".
O gelo que está sendo perdido é o mais antigo e grosso, o que significa que a região está sendo coberta por uma camada cada vez mais fina.Pelos cálculos do WWF, a área de gelo que tem pelo menos cinco anos caiu 56% entre 1985 e 2007, enquanto o gelo mais antigo praticamente desapareceu.
"Estamos esperando que 2008 seja o pior ou o segundo pior com respeito à cobertura de gelo no verão", afirmou o cientista. "Já existem sinais de que espécies como o urso polar estão sofrendo efeitos negativos por causa da erosão das plataformas onde vivem", disse.
O motivo do degelo é o aquecimento global. E uma de suas conseqüências é mais aquecimento. Como o gelo é branco, a maior parte da luz do sol que incide sobre ele é refletida de volta ao espaço. Ao derreter, no entanto, fica em seu lugar o mar aberto, que, sendo mais escuro, absorve a luz e esquenta. Isso ajuda a derreter ainda mais o gelo. O processo continua até que não haja mais o que derreter.
Em observações de campo realizadas durante as duas últimas décadas, Peter Wadhams, professor de física oceânica da Universidade de Cambridge, verificou que a espessura média do gelo foi reduzida em 40%.
"Trata-se também do primeiro ano em que a passagem entre a América do Norte e a Rússia está livre do gelo", disse Sommerkorn. Estrategistas militares consultados pelo Estado confirmam que tanto os norte-americanos quanto os russos estão dispostos a financiar expedições de peso para pequisar reservas de petróleo na região.
IRONIA
"Tudo indica que temos uma Arábia Saudita debaixo do Ártico. Até hoje ela era inacessível. Mas com o petróleo a preços altos e o degelo, os incentivos são reais para explorar essa possibilidade", afirmou Don Gautier, chefe do Departamento de Geologia dos EUA. Os campos de gás e petróleo sob a calota polar ártica são estimados por alguns geólogos em 25% das reservas mundiais não descobertas.
Mark Serreze, especialista do Centro Nacional de Neve e Gelo da Universidade do Colorado, tem apontado a "grande ironia" desse processo: o derretimento da calota polar aumentaria o acesso a mais combustíveis fósseis e sua exploração aceleraria ainda mais o ritmo de mudança climática.
Fonte O Estadão