13 outubro 2008

A um passo da recessão

Os sinais de uma recessão global, desencadeada pela maior crise financeira desde os anos 30, parecem mais nítidos do que nunca. A percepção dessa ameaça espalhou o pânico nas bolsas de todo o mundo nas últimas duas semanas. Bancos centrais forneceram dinheiro ao mercado e reduziram os juros numa ação conjunta. Os governos americano e britânico anunciaram planos extraordinários de intervenção, mas não conseguiram restabelecer a calma. Na sexta-feira, as ações continuaram despencando e recordes de baixa foram novamente quebrados em Nova York, na Europa e na Ásia. À tarde, ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 7 (G-7), as maiores economias do mundo capitalista, reuniram-se na sede do Tesouro americano. Nem precisariam dessa reunião para chegar a uma conclusão óbvia: só com a ação coordenada, rápida e ousada dos governos do mundo rico será possível evitar uma retração econômica prolongada.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, resumiu a situação muito claramente: o mundo está a um passo da recessão, mas a economia global poderá recuperar-se a partir do final de 2009, se os governos derem agora os passos necessários. O que disse depois foi a repetição do que já dissera em artigo publicado no Estado de ontem. Os primeiros a tomar o rumo por ele apontado foram os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido, enquanto os demais, no mundo rico, continuam insistindo em medidas mais limitadas e convencionais.

Mas, como se vê, mesmo as políticas mais corretas levarão algum tempo para influenciar o humor dos mercados. Até aqui, as atenções estiveram concentradas na seqüência de más notícias - quebras de bancos, enormes prejuízos de grandes grupos empresariais, cortes de vagas e retração dos consumidores. Os efeitos da crise na economia real têm dominado a campanha eleitoral americana. O resultado na televisão é notável. Enquanto os candidatos à presidência aparecem, nos comícios, prometendo socorro à classe média, as notícias móveis, na base da tela, mostram a queda contínua das cotações nas bolsas.

A palavra recessão já aparece em manchetes de primeira página na imprensa americana. Os consumidores, já afetados pela crise das hipotecas e pela desvalorização dos imóveis, já falam sobre redução de gastos no Natal.

A palavra recessão foi usada também pela ministra da Economia da França, Christine Lagarde, ao comentar o enfraquecimento da economia francesa. Pela estimativa do FMI, o crescimento francês deve ficar em 0,8% neste ano e recuar para 0,2% em 2009. Na maior parte do mundo rico, segundo o FMI, a expansão econômica será muito próxima de zero em 2009 - e não se descarta a hipótese de um desempenho negativo.

O aspecto menos feio dessas projeções é a expectativa de reação no segundo semestre. Mas essas estimativas foram formuladas com base num pressuposto otimista: os governos tomarão as medidas necessárias e isso deverá abreviar a crise.

O mesmo pressuposto vale para as projeções formuladas para a América Latina. Os países da região poderão crescer pouco mais que 3%, em média, se fortes medidas corretivas, no mundo rico, limitarem a extensão dos danos causados pela crise financeira. Nessas condições, o Brasil poderá chegar ao fim de 2009 sem maiores estragos e com uma expansão em torno de 3,5%, bastante razoável em face da situação global. Mas o País poderá ser afetado, assim como outros exportadores de produtos básicos, pela redução dos preços internacionais das commodities, fato normal em épocas de enfraquecimento da economia mundial.

O que diferencia esta crise das demais ocorridas a partir dos anos 80 são o tamanho da falência dos sistemas financeiros americano e europeu e a extensão prevista de seus efeitos na economia real. Desta vez, como têm repetido os economistas do FMI, as políticas monetária e fiscal, tradicionalmente usadas para a contenção das crises macroeconômicas, não seriam suficientes. Outros governos terão de recorrer a instrumentos financeiros para recapitalizar os bancos e expurgar o sistema de ativos podres, como já fizeram o americano e o inglês. Para efeitos mais duradouros, deverão, naturalmente, levar mais a sério a regulação dos mercados.

Fonte O Estadão

Nota: Ao um passo da volta de Cristo e fim de todas as coisas deste mundo e início da eternidade.