10 setembro 2009

O Culto a Baal e a Justificação Pela Fé – Primeira Parte

Todas as quintas-feiras estarei postando uma parte de um estudo realizado pelos pastores Donald K. Short e Robert J. Wieland (foto) eles são ministros ordenados com um total conjugado de quase 100 anos de serviço à Igreja Adventista do Sétimo Dia, 62 como missionários na África. A publicação deste livro foi iniciada pela Comissão de Estudo da Mensagem de 1888, composta de leigos e ministros que desejam reviver aquela "preciosíssima mensagem".

O ministério pastoral de Robert J. Wieland inclui 25 anos na obra Adventista na África, como departamental, fundador da Voz da Esperança na África Oriental, bem como autor e editor da "Africa Herald Publishing House", e consultor d a "Adventist All Africa Editorial". Serve à igreja por mais de 55 anos, vinte deles no Quênia e Uganda. É o fundador da Comissão para o Estudo da Mensagem de 1888.

Este estudo é parte integrante do livro 1888 Re-examinado que pode ser encontrado integralmente clicando aqui.

A sua mensagem é de grande importância para os nossos dias, deveríamos ter grande consideração para com elas se quisermos realmente ver a face de nosso Cristo na Glória e permanecer de pé diante do Cordeiro.

O Que É o Culto a Baal?

São essas predições de culto a Baal uma séria preocupação para nós hoje, ou foi um problema apenas temporário, confinado a Battle Creek no século dezenove? Nossa reação natural a essa inspirada predição é dizer, "Impossível! Incrível! Podemos ser 'miseráveis' e tudo o mais, contudo não estamos espiritualmente 'pobres' as¬sim!" Por outro lado, nossa consciência silenciosamente nos diz que algo está errado. Pode ser que isso faça sen¬tido, afinal de contas. Quem é Baal?

Na linguagem do antigo Israel, Baal era a simples palavra para senhor ou marido:

"É significativo que nos tempos patriarcais . . . o marido é o mestre, o baal, da esposa, que é dependen¬te dele para sua própria sobrevivência e sobre quem ele tem uma autoridade não compartilhada por outros." (B. G. Sanders, Christianity After Freud, Geoffrey Bles Ltd., London, 1949, p. 88; cf. Oséias 2:16).

Baal, o deus dos cananeus, significa "o senhor", freqüentemente a maneira ordinária de falar do verdadeiro Deus de Israel, o SENHOR, Javé. O babilônio Adon, helenizado como Adonis, tem o mesmo significado. É uma palavra cognata do hebraico Adonai, ou "o Senhor". Assim, quando os profetas de Baal oraram no Monte Carmelo, clamavam, "Oh, Senhor, Senhor, ouve-nos", enquanto Elias preservava uma distinta diferença em sua concepção de Deus (1 Reis 18:26).

Assume-se comumente que havia uma vasta diferença evidente entre a verdadeira religião de Israel e as religiões contemporâneas do paganismo. Mas os eruditos declaram que ocorriam surpreendentes semelhanças--um sacrifício matinal e da noitinha conduzidos diariamente, um dízimo pago aos sacerdotes, animais oferecidos sem mancha, livros sagrados e salmos penitenciais, muitos conceitos e idéias que eram cópias da verdadeira.

Os templos de Babilônia e Assíria tinham muito em comum com o templo de Salomão. O povo de Israel freqüentemente tropeçava nessas semelhanças e era enganado em várias formas de adoração apóstata. Era difícil para Israel sentir que estava adorando um falso deus quando o nome era aquele que comumente se empregava para o verdadeiro Deus. A linguagem e terminologia eram semelhantes, mas somente um profeta inspirado e aqueles que nele criam podiam discernir como os motivos e concepções diferiam. A predição de Ellen White suscita a assustadora possibilidade de que uma apostasia tão séria tem mansamente penetrado na Igreja moderna enquanto dormimos. Se for verdade, a situação é assustadora, mas não desesperadora. O arrependimento foi possível ao tempo de Elias, e é possível nos nossos.

A apostasia no tempo de Elias é freqüentemente entendida de modo equivocado como um desvio da verdade tão óbvia e chocante ao ponto de fazer os israelitas parecerem de forma incomum insensíveis e inescusáveis. Os fatos são que a apostasia de Israel foi gradual e inconsciente, requerendo cerca de um século para assumir as proporções que Elias reconheceu em seus dias. Ele deve ter tido uma mente muito perspicaz para discerni-la (cf. 3T 273; PK 109, 133, 137). Devemos nos lembrar que Elias ainda vive, tendo sido trasladado. Sentir-se-ia ele em casa entre nós, reconhecendo Jezabel e seus profetas?

Sendo, Baal, um falso cristo, é óbvio que todo culto do "eu' que é disfarçado como culto a Cristo e que foge ao princípio da cruz será, em realidade, culto a Baal. As raízes descem fundo, freqüentemente abaixo de nossa consciência.

O uso verbal do nome de Cristo e outra terminologia cristã nada representa no que tange à identificação da verdade. O inimigo de Cristo deve "personificar a Cristo", ou seja, assumir Sua aparência e usurpar-Lhe a identidade mediante enganos muito sutis. Mas muito antes da personificação virá a sua falsa representação. O não-adventista Frederick A. Voigt reconheceu um aspecto desse engano supremo: "A 'Ética Cristã' é o Anticristo do mundo ocidental. Trata-se da mais insidiosa e formidável corrupção que já afligiu este mundo".

Um pequeno exemplo é o culto do amor ao eu. Mediante uma sutil manipulação das Escrituras, o amor pecaminoso do eu tem sido transformado numa virtude. Durante os últimos quinze anos tem sido ensinado com todo empenho a nossos jovens como um suposto dever cristão. A ordem divina para amar nosso semelhante como amamos a nós mesmos é distorcida numa ordem para amar o eu, quando, de fato, o Senhor ensinou que a motivação de nossa natureza pecaminosa de nascença de amor ao eu é agora redirecionada mediante genuína fé a um amor semelhante ao de Cristo por nosso semelhante.

O auto-respeito genuíno é, de fato, uma virtude, mas torna-se autêntica mediante uma apreciação do amor altruísta de Cristo revelado na cruz. A verdadeira auto-estima é assim enraizada em Sua expiação. Mas o amor, do tipo "eu primeiro" é oposto à devoção a Cristo e Sua obra. É compreensível que um inimigo promova o culto do eu como se fosse ensino de Cristo. O que é difícil entender é por que os adventistas do sétimo dia devam promovê-lo.

Indubitavelmente é ignorância ou desconsideração com as declarações de Ellen White sobre o culto a Baal que tem tornado possível que a filosofia da Nova Era seja tolerada em nosso meio na medida em que se dá. Mas o fundamental em toda nossa confusão moderna é o erro de admitir-se um falso cristo pelo verdadeiro em conseqüência de nossa tragédia de 1888. As raízes remontam a quase um século.

Estamos todos familiarizados com a descrição do estágio final da personificação de Satanás quando ele imitar o segundo advento:

"Como ato culminante no grande drama de engano, o próprio Satanás personificará a Cristo . . . como um ser majestoso de brilho ofuscante . . . jamais superado por qualquer coisa que olhos mortais tenham contem¬plado. A exclamação de triunfo soa pelo ar: "Cristo veio! Cristo veio!" As pessoas se prostram em adoração pe¬rante ele, enquanto ergue as mãos e pronuncia uma bênção sobre eles. . . . Sua voz é suave e mansa, contudo plena de melodia. . . . Esse é um tremendo engano, quase insuperável (GC 624)."

A visão de Salamanca de 1890 desfaz um mistério. Em conseqüência de nossa incompreensão de 1888 quanto ao verdadeiro Cristo, esse falso cristo encontrará um meio de introduzir-se mediante representação falsa por falsas doutrinas e errôneos conceitos antes de dar o passo final de personificação física. É assim que as pala¬vras de Ellen White podem ser cumpridas. "A religião de muitos entre nós será a religião do Israel apóstata"--culto a Baal. Onde quer que o eu se torne o verdadeiro objeto de devoção enquanto professamos servir a Cristo, há um culto a Baal. Onde quer que a busca por promoção, prestígio e poder sejam as verdadeiras motivações do ministério, ali teremos profetas de Baal.

Mas isso não pode ocorrer onde a verdadeira mensagem de justificação pela fé é entendida e crida. O culto a Baal é fruto de uma espécie de ensinos corruptos que incentivam uma profissão de fé em Cristo enquanto o eu não é crucificado com Ele:

"A época atual caracteriza-se por idolatria, tão verdadeiramente como foi aquele em que viveu Elias. Nenhum objeto de adoração precisa ser visível; pode não haver qualquer imagem para os olhos perceberem; . . . multidões têm uma concepção errônea de Deus e Seus atributos, e estão tão verdadeiramente servindo a um falso deus como estiveram os adoradores de Baal." (PK 177).

"Nesta época o anticristo aparecerá como o verdadeiro Cristo . . . Mas o verdadeiro líder de toda esta rebelião é Satanás revestido como um anjo de luz. Os homens serão enganados e o exaltarão em lugar de Deus, e o deificarão." (TM 62; 1893).

"Cristo será personificado, mas num ponto haverá uma assinalada distinção. Satanás fará o povo desvi¬ar-se da lei de Deus." (FE 471, 472; 1897).

"Aqueles que não se acham inteiramente consagrados a Deus podem ser levados a realizar a obra de Satanás, conquanto ainda gabando-se de que estão no serviço de Cristo." (5T 103).

Uma justificação pela fé falsificada é inevitável quando a própria fé não é definida em termos neotesta¬mentários. A motivação popular centralizada no temor ou esperança de recompensa não é o da "fé que opera por amor (agape)". Assim, o culto a Baal encontra um meio para introduzir-se mediante teorias populares, mas inade¬quadas de justificação pela fé.