O nível do mar vai subir mesmo? Vale a pena comprar uma casa no litoral? Nossas praias e cidades litorâneas vão desaparecer? Essas perguntas surgem diante da sucessão de pesquisas com números diferentes (mas sempre alarmantes) sobre a elevação do nível dos mares.
Um estudo divulgado ontem no Congresso Científico Internacional sobre Mudança Climática de Compenhague, na Dinamarca, indica que o mar está subindo 3 milímetros ao ano, acima da média do século 20. A previsão mais otimista dos pesquisadores é que o oceano suba pelo menos meio metro até 2100.
Mas isso é apenas um estudo entre vários que saíram recentemente. Conforme publicamos recentemente neste blog, outros estudos já apresentaram dados ainda mais preocupantes. Um levantamento extenso da Universidade do Colorado diz que o mar vai subir no mínimo 80 centímetros até 2100. Outro estudo, ainda mais detalhado, da Comissão Delta, da Holanda, chegou a uma estimativa equivalente. A comissão recomenda que o país precisa se preparar para uma elevação global dos mares entre 55 centímetros e 1,10 metro.
Ainda há estudos apontando para uma elevação de 80 centímetros a 2 metros até 2100. Isso são previsões baseadas no que já existe de gás carbônico na atmosfera hoje. Ou sejam, eles indicam o que já seria inevitável. O esforço agora é para reduzir drasticamente as emissões e evitar conseqüências piores.
Todos esses estudos recentes mostram um quadro pior do que o os dados do último painel de cientistas convocados pela ONU (IPCC), há dois anos. O IPCC, que faz a coleção mais segura do que a ciência pode afirmar, apenas estimavam que o mar poderia chegar a 59 centímetros. O IPCC tem números menores por dois motivos. O primeiro é ele trabalha de forma extremamente conservadora. Os pesquisadores passam um ano coletando as melhores pesquisas sobre cada tema. E descartam todos os indicadores que não são confirmados por vários estudos independentes. Por isso, os números do IPCC são sempre subestimados.
O segundo motivo é que o IPCC já está ultrapassado. Nos últimos dois anos, os centros de pesquisa e universidades do mundo fizeram o maior esforço da história para estudar melhor o clima. As mudanças climáticas são o tema prioritário para a academia hoje. Foram feitos mais e melhores estudos para entender o comportamento da Antártica, do Ártico, das cordilheiras, do fundo do mar, do metano enterrado na tundra, da relação entre a gravitação da Terra e o nível do mar, etc. E o volume de conhecimento científico gerado nos últimos meses permite avaliações mais acuradas.
É por isso que foi organizado essa conferência na Dinamarca. Alguns dos principais cientistas do mundo estão elaborando um novo documento, parecido com o do IPCC, que deve reunir o que há de informação mais segura sobre as conseqüências das mudanças climáticas e o que podemos fazer para evitar as mais catastróficas delas. Eles vão compilar vários estudos como o que foi divulgado ontem para chegar a um resultado mais confiável, embora sempre conservador e subestimado.
Esse documento com as principais conclusões será divulgado em junho, quando o verão começar a esquentar a Europa. A esperança é que ele aumente a consciência de que já estamos na rota de mudanças expressivas no clima e que precisamos reduzir as emissões rápido para evitar impactos bem maiores. O congresso mira influenciar os líderes políticos dos países, que vão se reunir em dezembro em Copenhague para fechar um acordo internacional.
(Alexandre Mansur)