21 de Maio de 2008, 17:54
Porto, 21 Mai (Lusa) - A lista de espera do Banco Alimentar aumentou em 80 por cento em meio ano no distrito do Porto, onde cerca de 100 mil pessoas têm carências alimentares graves, denunciou hoje Teixeira Lopes, dirigente do BE.
"Ao revelarmos estes números não estamos a ser alarmistas. A realidade é pior. Em 2003 foi revelado que cerca de 200 mil pessoas em Portugal passavam fome. Hoje em dia, esse número pode, no mínimo, ser multiplicado por dois", disse à Lusa Teixeira Lopes.
O dirigente partidário, que hoje visitou o armazém do Banco Alimentar Contra a Fome no Porto, disse que "neste momento, cerca de 25 por cento das pessoas com carências alimentares graves estão no distrito do Porto".
"A situação neste distrito, no Alentejo, nos Açores e em algumas áreas da Madeira foram as que mais se agravaram", salientou.
Teixeira Lopes acusou o governo de "criar um paraíso artificial" e de demonstrar "uma crueldade social sem precedentes", exigindo que admita que existe fome e que crie um "Programa de Urgência de Distribuição Alimentar".
"Não tenho dúvidas de que estes números estão aliados ao aumento excessivo de vários produtos, como o pão e os hortícolas, mas também ao facto de o governo querer cumprir antes do tempo a meta de produção de dez por cento de biocombustíveis, imposta por Bruxelas, o que só rouba terra arável", disse.
O Banco Alimentar registou este ano um aumento de 35 por cento no número de doações no Porto e cerca de 25 por cento em Lisboa.
"As pessoas sabem que há fome e por isso há mais pessoas a dar", comentou Teixeira Lopes.
O ministro da Agricultura defendeu, no início deste mês, que se a rede institucional de apoio a pessoas carenciadas instalada em Portugal for eficaz, "não há risco de fome" no país.
Em declarações à agência Lusa, o ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Jaime Silva, explicou que através do programa de ajuda alimentar aos mais carenciados, totalmente financiado pela União Europeia (UE), as organizações podem ter acesso a alimentos gratuitamente e distribuí-los pelas instituições de menores dimensões e pelas pessoas que necessitam.
Para este ano, está prevista a distribuição de alimentos no valor de 14 milhões de euros, através de oito concursos.
Mas, se houver mais necessidade, Jaime Silva está disponível para "rever a situação".
"Há uma rede institucional de apoio na UE e, se formos eficazes, o risco de fome não se coloca" em Portugal, apesar da subida dos preços dos cereais que implicou, por exemplo, um acréscimo de nove por cento no valor a pagar pelo pão.
"As instituições vão a concurso" para requisitar os alimentos e "só têm de entregá-los a quem necessita" pois as entidades governamentais, dos ministérios da Agricultura e do Trabalho e Solidariedade Social, fornecem os produtos, transporte e distribuição, fez questão de salientar Jaime Silva.
Entre as organizações que receberam alimentos para distribuir em 2007 estão o Banco Alimentar contra a Fome, a AMI, Cruz Vermelha, Caritas, as Misericórdias ou Bombeiros Voluntários.
Este ano, estão já cinco concursos abertos, a decorrer até final de Maio, para produtos como massas, cereais para pequeno-almoço, bolachas, farinha ou açúcar.
Em Junho, vão decorrer mais três concursos para leite, produtos lácteos, manteiga e queijo.
Fonte: Lusa - Agência de Notícia de Portugal