30 novembro 2009

Limitar população, eterno tabu, agora entra em debate sobre clima

Limitar o crescimento da população mundial foi um assunto considerado tabu durante décadas, mas agora os potenciais impactos do aquecimento global sobre a vida de bilhões de pessoas fez com que o tema entrasse oficialmente na agenda de discussões da cúpula de Copenhague, que acontece de 7 a 18 de dezembro.

Como prova da mudança, o Fundo da ONU para a População (FNUP) afirmou que frear o aumento da população do planeta contribuiria de maneira fundamental com a luta contra os gases causadores do efeito estufa.

"Um crescimento mais lento da população aumentaria a resistência contra o impacto das mudanças climáticas e contribuiria para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa no futuro", indicou a FNUP em um relatório publicado em novembro.

O texto é o primeiro de uma agência das Nações Unidas a fazer referência tão explícita à relação entre clima e população, destacando a importância de aplicar políticas de contenção demográfica através do acesso apliado a métodos contraceptivos.

Em suas 104 páginas, o relatório da FNUP explica que, se até 2050 a população da Terra for de oito bilhões de pessoas, e não de nove bilhões, entre uma e duas gigatoneladas de dióxido de carbono deixariam de ser lançadas na atmosfera por ano (1 gigatonelada equivale a um bilhão de toneladas).

Em estudo publicado em setembro pela Royal Society britânica, Malcolm Potts, cientista da Universidade da Califórnia, destacou que os atuais 300 milhões de habitantes dos Estados Unidos devem chegar a um número entre 450 e 500 milhões em 2050.

"Cada nascimento não desejado prevenido nos Estados Unidos permitirá ao resto do mundo respirar com um pouco mais de facilidade", destacou Potts.

Além de serem o segundo país mais poluidor do planeta em termos de volume de emissões, os Estados Unidos ocupam também o sétimo lugar em termos per capita, com 23 toneladas de carbono emitidas por pessoa anualmente - volume dez vezes maior que nos países mais pobres da terra.

Gigantes emergentes como China e Índia mantêm há anos políticas de controle de natalidade e isto favoreceu seu crescimento econômico, sustentam especialistas.

Para este grupo de analistas, a redução da natalidade nos países mais pobres do mundo - onde nas últimas quatro décadas foi registrado 99% do crescimento demográfico global - significaria que menos gente ficaria exposta à fome crônica e aos desastres naturais.

Para outros especialistas, o debate sobre controle de natalidade foi deixado de lado pelos defensores do aumento demográfico nos países ricos, que veem como fator positivo o crescimento de suas populações.

Estas vozes também insistem que controlar a natalidade é um risco que expõe o país a sofrer com falta de mão-de-obra e colapso do sistema previdenciário.

Além disso, pesa sobre os defensores de políticas de controle demográfico o estigma das teorias de Thomas Malthus, cujas previsões sobre a fome, doenças e morte em consequência do crescimento da população ficaram obsoletas depois do aumento da produtividade agrícola mundial.

Nas discussões sobre o clima, 37 países desenvolvidos já incluíram o tema da demografia em seus planos nacionais contra o aquecimento global.

No entanto, muitos especialistas são contra o debate deste assunto na cúpula de Copenhague, argumentando que já será difícil conseguir bons resultados e por isso é melhor não abordar um tema tão polêmico na ocasião.

Fonte Último Segundo

Nota: Estamos muito perto de desfecho de todas as coisas...