Relatório divulgado pela Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) calcula em 53 milhões o número de pessoas que, hoje, passam fome na região, o mesmo número de famintos que se verificava nos anos 1990. Em 2005, a Cepal estimou-o em 45 milhões significa, portanto, que, em quatro anos, 8 milhões de indivíduos despencaram para baixo da linha da segurança alimentar. Um preocupante retrocesso, como disse muito bem a presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região, Olga Maria Amâncio, em artigo que publicou sobre o assunto. De acordo com avaliação feita pelo Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (PMA), serão necessários 10 anos para se retornar à situação anterior. No Brasil, apesar das propaladas políticas públicas de inclusão alimentar como o programa Fome Zero, do qual, atualmente, pouco se fala , 14 milhões de compatriotas ainda enfrentam a fome e a desnutrição, também de acordo com a ONU.
Na próxima segunda-feira, dia16, será aberta, em Roma, mais uma Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar, durante a qual esses e outros números igualmente assustadores estarão em pauta. Espera-se que, deste encontro, que reunirá governantes e especialistas dos 192 estados-membros da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), emerjam decisões sobre políticas e estratégias capazes de assegurar mais comida para um mundo faminto. Nas próximas quatro décadas – lembra o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf –, a população mundial ultrapassará 9 bilhões de pessoas. Para saciar a fome do mundo, será necessário produzir 70% mais alimentos do que hoje. O desafio é enorme porquanto as condições que se desenham são adversas: as mudanças climáticas poderão reduzir a produção do campo; é crescente, em todo o mundo, a redução da mão de obra agrícola porque, nos próximos anos, mais de 600 milhões de pessoas trocarão o campo pela cidade.
Evidencia-se que, para dar a resposta esperada, a atividade agrícola terá que ser mais intensiva em capital e em tecnologias. Praticamente, todo o incremento futuro da produção, como também observou o diretor-geral da FAO, virá antes do aumento da produtividade do que do aumento da área plantada. O mundo tem fome. O Brasil é um país que poderá dar algumas das melhores respostas para o problema. Mas, antes, precisa fazer a sua lição de casa. Na vida real, e não apenas no discurso.
Fonte Diário Catarinense