É melhor esperar que o controle de volume do aquecimento global não chegue ao 11. Agora que a mudança climática parece ter se tornado audível, esse marco tomado de empréstimo ao filme "Spinal Tap" talvez venha um dia a representar a maneira definitiva de avaliar o grau de catástrofe climática que teremos de enfrentar.
De acordo com um novo estudo, agora se tornou possível ouvir o avanço do aquecimento global em forma de tempestades maiores, mais intensas e surgidas a intervalos cada vez mais frequentes - sinais de mudança climática, na interpretação de muitos cientistas.
Ao longo das décadas, os sismologistas vêm filtrando e excluindo de suas medições os sons de imensas ondas propelidas pelo oceano quando estas se chocam com as costas. O incômodo ruído que elas geravam interferia com a detecção de terremotos. Mas agora alguns especialistas alteraram seus filtros de maneira a excluir os indicadores de terremotos e a aumentar o volume das ondas de tempestade.
O som de ondas colidindo com a costa cria vibrações muito específicas, de acordo com Peter Bromirski, do Instituto Scripps de Oceanografia, o diretor científico do estudo. E essas vibrações indicam qual é a severidade real das tempestades oceânicas.
Bromirski e outros continuam a estudar dados sismológicos de tempestades acontecidas dos anos 30 até o presente, e estão esperando antes de divulgar o resultado completo de suas análises ao público. Mas uma tendência já se tornou evidente, segundo ele. "Existe uma clara elevação nos eventos severos de tempestade ao longo dos anos, que temos percebido nas estações de gravação".
O cenário mundial está muito bem preparado para escuta em larga escala das ondas de tempestade no oceano aberto. As estações de registro sísmico vêm acompanhando as vibrações do planeta, de diversos pontos de registro, desde os anos 30, trabalhando sempre mais ou menos da mesma maneira. A consistência que esse método oferece pode ser reconfortante para os cientistas.
Por exemplo, dados de satélites sobre os padrões climáticos foram utilizados para identificar provas de uma tendência de intensificação das tempestades, mas alguns cientistas afirmam que a tecnologia de satélites mudou tanto ao longo das décadas que seu uso é problemático para o acompanhamento de tempestades em longo prazo.
"O que essas estações de registro (de tendências sismológicas) têm de melhor", disse Bromirski, "é que se trata de sistemas muito estáveis, que registram sempre de maneira muito consistente as vibrações produzidas pelas atividades relacionadas a tempestades". As constatações do estudo foram publicadas na revista Science.