O aquecimento global está próximo de se tornar irreversível, o que
torna esta década crítica nos esforços para preveni-lo, disseram
cientistas nesta segunda-feira (26).
As estimativas científicas diferem, mas é provável que a temperatura
mundial suba até 6ºC até 2100, caso as emissões de gases do efeito
estufa continuem aumentando de forma descontrolada. Mas, antes disso,
haveria um ponto em que os estragos decorrentes do aquecimento -como o
degelo das camadas polares e a perda das florestas- se tornariam
irrecuperáveis.
"Essa é uma década crítica. Se não revertermos as curvas nesta
década, vamos ultrapassar esses limites", disse Will Steffen,
diretor-executivo do instituto para a mudança climática da Universidade
Nacional Australiana, falando em uma conferência em Londres.
Apesar dessa urgência, um novo tratado climático obrigando grandes
poluidores como EUA e China a reduzirem suas emissões só deve ser
definido até 2015, para entrar em vigor em 2020.
"Estamos no limiar de algumas grandes mudanças", disse Steffen.
"Podemos... limitar o aumento das temperaturas a 2ºC, ou cruzar o limite
além do qual o sistema passa para um estado bem mais quente."
No caso das camadas de gelo, cruciais para desacelerar o aquecimento,
esse limiar provavelmente já foi ultrapassado, segundo Steffen. A capa
de gelo da Antártida ocidental já encolheu na última década, e a região
da Groenlândia perde 200 quilômetros cúbicos de cobertura por ano desde a
década de 1990.
A maioria dos especialistas prevê também que a Amazônia se tornará
mais seca em decorrência do aquecimento. Uma estiagem que tem matado
muitas árvores motiva temores de que a floresta também poderia estar
perto de um ponto irreversível, a partir do qual deixará de absorver
emissões de carbono e passará a contribuir com elas.
Cerca de 1,6 bilhão de toneladas de carbono foram perdidas em 2005 na
floresta tropical, e 2,2 bilhões de toneladas em 2010, o que reverte
cerca de dez anos de atividade como "ralo" de carbono, disse Steffen.
Um dos limites mais preocupantes e desconhecidos é do "permafrost"
(solo congelado) siberiano, que armazena carbono no chão, longe da
atmosfera.
"Há cerca de 1,6 trihão de toneladas de carbono por lá -cerca do
dobro do que existe hoje na atmosfera-, e as latitudes setentrionais
elevadas estão experimentando a mudança de temperatura mais severa em
qualquer parte do planeta", disse ele.
No pior cenário, 30 a 63 bilhões de toneladas de carbono por ano
seriam liberadas até 2040, chegando a 232 a 380 bilhões de toneladas por
ano até 2100. Isso é um volume bem mais expressivo do que os cerca de
10 bilhões de toneladas de CO2 liberadas por ano pela queima de combustíveis fósseis.
Fonte Último Segundo