Na década de 1980, surgiu no meio adventista uma
interpretação totalmente "nova" e contrária à tradicionalmente ensinada pela
Igreja Adventista sobre o capítulo 17 de Apocalipse. Essa interpretação sugere
que, a partir do verso 8, João apresenta a besta após o período em que ela foi
ferida de morte (ver Apocalipse 13:3). A besta, sem sombra de dúvida, foi o
papado durante a Idade Média, isso é fato que a história e a profecia comprovam. Mas quanto ao restante da "nova" interpretação, é sensato disseminá-la em todos os lugares como sendo verdade, a revelação de Deus?
Um Pouco de História
Um Pouco de História
Em 1798, Berthier, general do exército francês, sob o comando de Napoleão Bonaparte, levou o Papa Pio VI prisioneiro para França, quebrando o domínio papal que, até então, existira por 1260 anos. Com esse ataque à supremacia papal, em 1861, o rei Vítor Manuel deu início ao moderno Estado Laico Italiano. Dez anos depois, a Itália declarou guerra aos remanescentes Estados Papais, que incluía a cidade de Roma. No dia 20 de setembro de 1870, o exército italiano invadiu Roma, tomando os Estados Papais que lhe restavam.
A cura dessa ferida, causada pela Revolução Francesa e
intensificada pela emergente nação laica italiana no século 19, começou após o
Tratado de Latrão, realizado entre o Cardeal Gasparri e Benito Mussolini,
ditador italiano, que restaurou a condição de Estado do Vaticano em 11 de
fevereiro de 1929. Essa data é usada para o início da contagem dos sete reis de
Apocalipse 17:9,10 de acordo com a "nova" interpretação. Se ela estiver correta,
sete papas (reis) subiriam ao trono entre 1929 até o surgimento do anticristo
que seria o oitavo papa (oitavo rei na profecia de Apocalipse 17:11).
Um Pequeno Quadro da Teoria dos Sete Reis
Um Pequeno Quadro da Teoria dos Sete Reis
Joseph Ratzinger (Bento XVI) é o sétimo papa a assumir o trono do Vaticano desde 1929,
isso significa que o próximo pontífice do Vaticano, de acordo com essa
interpretação, é o anticristo. Na última segunda-feira, 11/02, Bento XVI anunciou
que cumprirá sua agenda até o dia 28 de fevereiro, a partir dessa data, ele renunciará
ao cargo e um novo papa será escolhido (o oitavo).
Essa interpretação segue a tese de que algumas profecias só
seriam totalmente compreendidas no momento do seu cumprimento (GC, 344). Eis o
porquê que alguns acreditam que Apocalipse 17:10, onde diz: “Cinco
já caíram, um ainda existe, e o outro ainda não surgiu; mas, quando surgir,
deverá permanecer durante pouco tempo” se refere ao momento em que a
profecia foi desvendada.
Na década
de 1980, cinco papas já haviam passado, um existia (João Paulo II), e o próximo
iria durar pouco. Bento XVI reinou somente oito anos, muito pouco em comparação
a João Paulo II que resistiu no trono por 26 longos anos. Sua renúncia é
algo inédito na história dos papas, fato que tem aumentado as especulações
sobre a teoria dos sete reis, como a referida interpretação é conhecida.
Até o
momento, a profecia "parece" está acontecendo como interpretada por alguns
adventistas. No entanto, ela carece de mais evidências tanto teológicas como
factuais, e só a história poderá testá-la, aprová-la ou descartá-la, dessa
forma, o sensacionalismo que tem acontecido após o anúncio da renúncia de Bento
XVI não parece sensato.
Qual a Posição Oficial da IASD
Gostaria de deixar claro que essa interpretação não é a oficial da Igreja
Adventista do Sétimo Dia com relação aos sete reis de Apocalipse 17. Se ela
estiver errada, portanto, o erro não partiu da administração e da totalidade do
corpo teológico da IASD, e muito menos está ela contida nos escritos de Ellen
White, ela é uma interpretação que corre às margens do corpo administrativo da
Igreja Adventista.
Não
posso deixar de mencionar que a teoria dos sete reais ganhou um número significativo
de adeptos entre nossos irmãos. Isso acontece pelo fato de haver no coração dos nossos membros um grande desejo de estar ao lado de Cristo, pois não suportam mais
este mundo mal – isso é bom, muito bom – e quando alguma interpretação
profética apresenta o rápido cumprimento do fim de todas as coisas, logo é
apreciada e disseminada por muitos sem um exame minucioso – isso é perigoso e
insensato; “sejam simples como a pomba e prudentes como a serpente.” Mateus
10:16.
Nós
somos uma igreja profética e por isso temos um interesse especial por profecias,
no entanto, devemos tomar cuidado com especulações que podem falhar, pois
podemos cair em descrédito e isso não seria bom para ninguém. Portanto, tome
cuidado, seja cauteloso ao falar sobre essa teoria e pregar sobre ela. Ela pode
está certa, mas também pode está errada. Devemos considerar essas duas
possibilidades antes de tomar qualquer decisão que afete nossa vida espiritual
e a imagem da igreja perante a sociedade.
Eis,
abaixo, uma declaração de um adepto dessa interpretação:
“Não é
sábio acreditar em alguém que afirma categoricamente
que o Papa Bento XVI é o último papa e também não é prudente acreditar em
alguém que afirme categoricamente
que ele não é o último papa. Qual deve ser então a postura do fiel remanescente
de Deus? Não acredite afoitamente em
tudo que se diz...” Samuel Ramos, Revelações do Apocalipse – Volume III,
pág. 110.
Eis,
abaixo, outra declaração, agora, de um sábio e sensato teólogo, que é
reconhecido pela administração da Igreja:
“Como
afirmado anteriormente, a teoria do sexto rei não é mais que isso: uma teoria. Como tal, ela ainda será
testada no laboratório da História. Nem
devemos fechar o coração a ela, nem aceitá-la como revelação de Deus.” José
Carlos Ramos, Revista Adventista, julho de 1999.
O Mais Importante
O
importante mesmo é estar preparado para qualquer evento profético. Não podemos,
de forma alguma, ficar esperando por notícias sensacionalistas para preparar a
nossa vida para o encontro com Cristo. Aqueles que estão esperando algo dessa
natureza poderão perder a chance de serem salvos, pois são semelhantes às
virgens néscias. As
virgens prudentes se prepararam antes dos eventos proféticos acontecerem, elas
os conheciam, pois haviam estudado sobre eles e fizeram provisões. Dormiram
sim, mas quando acordaram, estavam preparadas para o encontro com o Salvador.
Queridos irmãos, sensacionalismo não realiza preparação verdadeira
em pessoa alguma. Precisamos agir com sensatez e sabedoria. Necessitamos é de
um reavivamento espiritual e ele não será causado por sensacionalismos. Todos os
excitamentos dessa natureza não são duradouros. Reconheço o desejo que
existe em todos de subirem com Cristo logo, logo, eu também tenho esse desejo,
é o que mais quero, mas precisamos agir também com a razão. Se essa
interpretação estiver errada, vocês já pararam para imaginar no mal que ela
causará entre nossos irmãos e na sociedade? Pensem sobre isso antes de
publicarem algo sobre ela na internet ou em qualquer outro lugar.
Gostaria também de solicitar aos teólogos de plantão, que sejam
prudentes e sensatos, pois a teoria pode está errada sim, mas também pode
está correta, só o tempo irá dizer a verdade. Se ela estiver correta, como vocês
ficarão depois de havê-la combatido? Terão humildade e tempo suficiente para reconhecer
que estavam errados? Portanto, não desmereçam os irmãos que anseiam pelo retorno
de nosso Salvador. Eles precisam de oração e não de retaliação.
Por fim, um conselho a todos: "Não tratem com desprezo as profecias, mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom" I Tes. 5:20,21.
Hilton Bastos