13 fevereiro 2013

A Renúncia de Bento XVI e a Teoria dos Sete Reis




Na década de 1980, surgiu no meio adventista uma interpretação totalmente "nova" e contrária à tradicionalmente ensinada pela Igreja Adventista sobre o capítulo 17 de Apocalipse. Essa interpretação sugere que, a partir do verso 8, João apresenta a besta após o período em que ela foi ferida de morte (ver Apocalipse 13:3). A besta, sem sombra de dúvida, foi o papado durante a Idade Média, isso é fato que a história e a profecia comprovam. Mas quanto ao restante da "nova" interpretação, é sensato disseminá-la em todos os lugares como sendo verdade, a revelação de Deus?

Um Pouco de História

Em 1798, Berthier, general do exército francês, sob o comando de Napoleão Bonaparte, levou o Papa Pio VI prisioneiro para França, quebrando o domínio papal que, até então, existira por 1260 anos. Com esse ataque à supremacia papal, em 1861, o rei Vítor Manuel deu início ao moderno Estado Laico Italiano. Dez anos depois, a Itália declarou guerra aos remanescentes Estados Papais, que incluía a cidade de Roma. No dia 20 de setembro de 1870, o exército italiano invadiu Roma, tomando os Estados Papais que lhe restavam.

A cura dessa ferida, causada pela Revolução Francesa e intensificada pela emergente nação laica italiana no século 19, começou após o Tratado de Latrão, realizado entre o Cardeal Gasparri e Benito Mussolini, ditador italiano, que restaurou a condição de Estado do Vaticano em 11 de fevereiro de 1929. Essa data é usada para o início da contagem dos sete reis de Apocalipse 17:9,10 de acordo com a "nova" interpretação. Se ela estiver correta, sete papas (reis) subiriam ao trono entre 1929 até o surgimento do anticristo que seria o oitavo papa (oitavo rei na profecia de Apocalipse 17:11).

Um Pequeno Quadro da Teoria dos Sete Reis

Joseph Ratzinger (Bento XVI) é o sétimo papa a assumir o trono do Vaticano desde 1929, isso significa que o próximo pontífice do Vaticano, de acordo com essa interpretação, é o anticristo. Na última segunda-feira, 11/02, Bento XVI anunciou que cumprirá sua agenda até o dia 28 de fevereiro, a partir dessa data, ele renunciará ao cargo e um novo papa será escolhido (o oitavo). 

Essa interpretação segue a tese de que algumas profecias só seriam totalmente compreendidas no momento do seu cumprimento (GC, 344). Eis o porquê que alguns acreditam que Apocalipse 17:10, onde diz: Cinco já caíram, um ainda existe, e o outro ainda não surgiu; mas, quando surgir, deverá permanecer durante pouco tempose refere ao momento em que a profecia foi desvendada.

Na década de 1980, cinco papas já haviam passado, um existia (João Paulo II), e o próximo iria durar pouco. Bento XVI reinou somente oito anos, muito pouco em comparação a João Paulo II que resistiu no trono por 26 longos anos. Sua renúncia é algo inédito na história dos papas, fato que tem aumentado as especulações sobre a teoria dos sete reis, como a referida interpretação é conhecida.

Até o momento, a profecia "parece" está acontecendo como interpretada por alguns adventistas. No entanto, ela carece de mais evidências tanto teológicas como factuais, e só a história poderá testá-la, aprová-la ou descartá-la, dessa forma, o sensacionalismo que tem acontecido após o anúncio da renúncia de Bento XVI não parece sensato.

Qual a Posição Oficial da IASD

Gostaria de deixar claro que essa interpretação não é a oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia com relação aos sete reis de Apocalipse 17. Se ela estiver errada, portanto, o erro não partiu da administração e da totalidade do corpo teológico da IASD, e muito menos está ela contida nos escritos de Ellen White, ela é uma interpretação que corre às margens do corpo administrativo da Igreja Adventista.

Não posso deixar de mencionar que a teoria dos sete reais ganhou um número significativo de adeptos entre nossos irmãos. Isso acontece pelo fato de haver no coração dos nossos membros um grande desejo de estar ao lado de Cristo, pois não suportam mais este mundo mal – isso é bom, muito bom – e quando alguma interpretação profética apresenta o rápido cumprimento do fim de todas as coisas, logo é apreciada e disseminada por muitos sem um exame minucioso – isso é perigoso e insensato; “sejam simples como a pomba e prudentes como a serpente.” Mateus 10:16.

Nós somos uma igreja profética e por isso temos um interesse especial por profecias, no entanto, devemos tomar cuidado com especulações que podem falhar, pois podemos cair em descrédito e isso não seria bom para ninguém. Portanto, tome cuidado, seja cauteloso ao falar sobre essa teoria e pregar sobre ela. Ela pode está certa, mas também pode está errada. Devemos considerar essas duas possibilidades antes de tomar qualquer decisão que afete nossa vida espiritual e a imagem da igreja perante a sociedade.

Eis, abaixo, uma declaração de um adepto dessa interpretação:

“Não é sábio acreditar em alguém que afirma categoricamente que o Papa Bento XVI é o último papa e também não é prudente acreditar em alguém que afirme categoricamente que ele não é o último papa. Qual deve ser então a postura do fiel remanescente de Deus? Não acredite afoitamente em tudo que se diz...” Samuel Ramos, Revelações do Apocalipse – Volume III, pág. 110.

Eis, abaixo, outra declaração, agora, de um sábio e sensato teólogo, que é reconhecido pela administração da Igreja:

Como afirmado anteriormente, a teoria do sexto rei não é mais que isso: uma teoria. Como tal, ela ainda será testada no laboratório da História. Nem devemos fechar o coração a ela, nem aceitá-la como revelação de Deus.” José Carlos Ramos, Revista Adventista, julho de 1999.

O Mais Importante

O importante mesmo é estar preparado para qualquer evento profético. Não podemos, de forma alguma, ficar esperando por notícias sensacionalistas para preparar a nossa vida para o encontro com Cristo. Aqueles que estão esperando algo dessa natureza poderão perder a chance de serem salvos, pois são semelhantes às virgens néscias. As virgens prudentes se prepararam antes dos eventos proféticos acontecerem, elas os conheciam, pois haviam estudado sobre eles e fizeram provisões. Dormiram sim, mas quando acordaram, estavam preparadas para o encontro com o Salvador.

Queridos irmãos, sensacionalismo não realiza preparação verdadeira em pessoa alguma. Precisamos agir com sensatez e sabedoria. Necessitamos é de um reavivamento espiritual e ele não será causado por sensacionalismos. Todos os excitamentos dessa natureza não são duradouros. Reconheço o desejo que existe em todos de subirem com Cristo logo, logo, eu também tenho esse desejo, é o que mais quero, mas precisamos agir também com a razão. Se essa interpretação estiver errada, vocês já pararam para imaginar no mal que ela causará entre nossos irmãos e na sociedade? Pensem sobre isso antes de publicarem algo sobre ela na internet ou em qualquer outro lugar.

Gostaria também de solicitar aos teólogos de plantão, que sejam prudentes e sensatos, pois a teoria pode está errada sim, mas também pode está correta, só o tempo irá dizer a verdade. Se ela estiver correta, como vocês ficarão depois de havê-la combatido? Terão humildade e tempo suficiente para reconhecer que estavam errados? Portanto, não desmereçam os irmãos que anseiam pelo retorno de nosso Salvador. Eles precisam de oração e não de retaliação.

Por fim, um conselho a todos: "Não tratem com desprezo as profecias, mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom" I Tes. 5:20,21.


Hilton Bastos