«O melhor tributo às vítimas de Hiroshima e Nagasaki é o prosseguimento e o reforço da luta contra o militarismo, a escalada armamentista, a proliferação nuclear e a agressão e ocupação imperialistas», disse ontem Ângelo Alves.
A declaração de Ângelo Alves, membro da Comissão Política do CC do PCP, foi apresentada aos jornalistas no momento em que passam 63 anos sobre os bombardeamentos, com armas atómicas, daquelas duas cidades japonesas, a 6 e 9 de Agosto de 1945, apontados como «um elucidativo exemplo de terrorismo de Estado perpetrado pelo governo e forças armadas dos Estados Unidos da América» e «um crime contra a humanidade», que «serviu essencialmente para os EUA afirmarem o seu poderio militar e capacidade destruidora e para sinalizar uma política de crescente confrontação com a União Soviética». Ao prestar «uma sentida homenagem a esses milhares de homens, mulheres e crianças que pereceram sob a bomba atómica e aos que, 63 anos depois, enfrentam ainda, directa ou indirectamente, as consequências das radiações», o PCP chama a atenção para que, «quando a situação internacional, marcada por enormíssimas e crescentes desigualdades e por uma profunda crise económica mundial, aconselharia à aposta na diplomacia, na cooperação, no diálogo entre nações em condições de igualdade mútua e numa aposta séria no desarmamento, a retórica de paz das principais potências militares é desmentida pela profusão de conflitos militares e de guerras de ocupação e pelas permanentes ameaças de novas intervenções militares contra países e povos».
«Crescentemente marcada pelos atropelos constantes ao direito internacional, pela subversão do papel da ONU, pelo rasgar de tratados internacionais, pelo ataque cerrado à soberania dos países e pelo total desrespeito pelos inalienáveis direitos nacionais e sociais dos trabalhadores e dos povos», a situação internacional contém «factores de grande inquietação»:
- os sinais que apontam para uma solução no Iraque, que pode passar pela mitigação da ocupação estrangeira e pelo maior envolvimento da ONU e de potências europeias numa solução neo-colonial;
- a concordância das elites políticas e militares norte-americanas e europeias quanto a intensificar a guerra no Afeganistão;
- a convergência, expressa no seio da NATO, entre potências europeias e os EUA, em torno do projecto do sistema antimíssil e de uma linha de progressiva confrontação com a Rússia e China;
- o «regresso a África» de várias potências militares, com destaque para os EUA, e a instalação do Africom;
- a reactivação da IV Esquadra norte-americana na América Latina, numa linha de crescente confrontação com países como a Venezuela, a Bolívia e Cuba, e de forma geral com as forças progressistas revolucionárias deste sub-continente.
Não obstante a rejeição pelo povo irlandês do Tratado de Lisboa, o qual tem uma marcada vertente militarista, que inclui a adopção do conceito de «guerra preventiva» como política oficial, a União Europeia prossegue a formação de grupos de combate e prepara novos grupos navais de intervenção rápida, refere-se ainda na declaração.
Se «parte da estratégia militarista e securitária das principais potências imperialistas mundiais é justificada com um suposto combate ao terrorismo», a realidade demonstra que «é essa mesma política de militarismo e mesmo de terrorismo de Estado, como é o caso gritante de Israel, que alimenta uma situação explosiva internacional, o caldo perfeito para o desenvolvimento do terrorismo». As sociedades «são cada vez mais empurradas para a banalização da violência e para a restrição das liberdades» e «a forma vergonhosa como vários governos, incluindo o português, assobiam para o lado, relativamente ao envolvimento dos seus países em autênticos crimes, como o transporte ilegal de prisioneiros é sintomática do ambiente de impunidade de que as grandes potências – especialmente os EUA – gozam na actualidade». Este facto ficou «eloquentemente demonstrado» na notícia de que o Pentágono se sentiu livre para afirmar que a maioria dos prisioneiros de Guantanamo não será julgada nem libertada.
O Irão
Num dia em que eram esperados novos desenvolvimentos em torno do «dossier nuclear do Irão», indicado como «exemplo elucidativo da hipocrisia com que as principais potências imperialistas e mesmo a ONU olham o tema do militarismo e especialmente das armas nucleares», o PCP recordou que «defendemos, há muito, o desarmamento nuclear, defendendo simultaneamente o inalienável direito de qualquer país e povo de decidir de forma soberana sobre a sua política energética, incluindo o direito de produção de energia nuclear».
«Quando se ameaça o Irão com o aprofundamento de sanções económicas e se adensam os perigos de um ataque militar dos EUA ou de Irsael ao Irão é necessário relembrar que aqueles que hipocritamente acusam este país de tentar produzir a arma nuclear são exactamente aqueles que mantêm intactas as suas ogivas nucleares operacionais»; «são exactamente aqueles que, como Israel, agem na ilegalidade e fora dos tratados internacionais para se armarem com arsenal nuclear e que, sem pejo, afirmam publicamente poderem usar essa mesma arma»; «são exactamente aqueles que, como os EUA, a Grã Bretanha ou a França, sob a capa de uma redução formal das suas ogivas nucleares, investem milhares de milhões de dólares na manutenção e desenvolvimento tecnológico dos seus arsenais nucleares e não hesitam, como os EUA, em usar armas proibidas nas guerras que conduzem» - afirma-se na declaração apresentada por Ângelo Alves.
Inquietação justificada
Segundo dados da ONU, permanecem nas mãos de oito países mais de 26 mil ogivas nucleares com capacidade destruidora incomensuravelmente superior às utilizadas em 1945. Destas, 10 200 estão operacionais e na posse sobretudo de potências da NATO. A adopção, pelos EUA, a NATO e várias potências europeias, de novos conceitos estratégicos, abertamente ofensivos e em que é admitido o uso da arma nuclear em ataque militar, aumenta a inquietação em torno da possibilidade de o mundo vir novamente a testemunhar o terror nuclear.As despesas militares mundiais aumentaram desde 1998 cerca de 45 por cento e os orçamentos militares do EUA e dos principais países da NATO atingem valores recorde. O orçamento militar dos EUA para 2009 é da ordem dos 711 mil milhões de dólares, o maior desde o fim da II Guerra Mundial.Em 2007, aumentaram 8 por cento as vendas das 100 maiores companhias produtoras de armamento.
Fonte Jornal Avante