Por que este artigo se tornou necessário
Esta pergunta surgiu na mente de alguns que ouviram declarações afirmando que quem utiliza a carne como alimento não será salvo. Infelizmente essa afirmação tem sido alvo de constantes debates entre o nosso povo e aqueles que se separaram da Organização Adventista do Sétimo Dia.
Também existem problemas entre nós. Não são raros os embates entre os defensores do vegetarianismo e aqueles que preferem apenas abandonar aquilo que é considerado imundo, mas ainda consumem carne bovina, caprina, ovina, como também de frangos, de peixes, etc.
O grande problema nesses confrontos está no fato de não haver consideração e respeito para com o próximo, e isso acontece de ambas as partes. Todos querem apresentar as suas opiniões sem atentar para as circunstâncias do próximo. O que conseguimos perceber com a atitude de alguns é o ato de tentar impor seus pontos de vistas, mesmo que sejam verdadeiros, esquecendo que não é “por força nem por violência, mas pelo meu Espírito’, diz o Senhor dos Exércitos” Zacarias 4:6 (NVI). Dessa forma estamos fazendo a obra do acusador e não a obra do Senhor.
Este breve artigo procura, de maneira objetiva, fornecer informações que possam nos orientar nesse sentido.
As declarações de Ellen White sobre o consumo da carne
Esta questão é levantada por uma compreensão errônea de algumas declarações de Ellen White quanto ao alimento cárneo. Vejamos algumas dessas declarações:
“Deus está procurando levar-nos de volta, passo a passo, a Seu desígnio original - que o homem subsista com os produtos naturais da terra. Entre os que estão aguardando a vinda do Senhor, deve a alimentação cárnea ser finalmente abandonada; a carne deixará de fazer parte de seu regime alimentar. Devemos ter isto sempre em mente, e procurar agir firmemente nesse sentido.” Conselhos Sobre Saúde, pág. 450.
“Devem ser vistas maiores reformas entre o povo que pretende estar aguardando o breve aparecimento de Cristo. A reforma de saúde deve realizar uma obra entre o nosso povo que ela ainda não realizou. Há os que devem estar atentos para o perigo de comer carne, pois ainda estão ingerindo a carne de animais, arriscando assim a saúde física, mental e espiritual. Muitos que agora estão apenas meio convertidos no tocante à questão de comer carne, se afastarão do povo de Deus para não mais andar com eles.” Eventos Finais, pág. 82.
Em nenhuma dessas declarações Ellen White afirmou que comer carne é pecado. Se assim fizesse, como explicar I Reis 17:6, onde Deus enviou pão e carne para Elias?
“Os corvos lhe traziam pão e carne de manhã e de tarde, e ele bebia água do riacho.” I Reis 17:6 (NVI).
Alguns argumentam que Deus respeita quando há ignorância, afirmando que Elias não conhecia a mensagem, por isso Ele enviou carne. O correto é afirmar que Deus tolera o pecado quando há ignorância, mas quanto a incentivar o ignorante a cometer um ato pecaminoso só por que o mesmo não possui luz suficiente sobre o assunto, é algo que Deus não faz. Se Ele considerasse comer carne um pecado, com certeza não estimularia ninguém a fazê-lo. Para evitar um ato pecaminoso, Deus opera milagres, mesmo que haja ignorância. Mas afirmar que Deus opera milagres que estimulam o pecado, é algo inaceitável. Ademais, conhecendo o caráter de Elias, homem fiel e obediente, Deus poderia lhe fornecer frutas e verduras frescas, que com certeza, ele aceitaria, ou Ele poderia agir da mesma forma como fez ao enviar o maná para Seu povo no deserto.
Devemos lembrar que foi Deus quem autorizou o consumo da carne (Gên. 9:1-4). É evidente que devemos compreender este texto dentro do contexto de que, após o dilúvio, a terra estava totalmente devastada, não havia vegetação, contudo, se esse ato fosse um pecado, com certeza Deus não daria permissão devido a falta de vegetação, pois isso seria o mesmo que permitir que alguém cometesse um roubo para alimentar sua família por que ficou desempregado. Pecado é pecado, e não são aceitas desculpas para cometê-lo. Sabemos que Deus tem poder para fazer brotar da terra a vegetação, para fazer cair do céu o maná; Ele mesmo irá alimentar Seu povo nos últimos dias, assim como alimentou o povo de Israel no deserto (Isaías 33:16). Portanto, Deus poderia fornecer alimentação vegetal para Noé e sua família até que a terra produzisse novamente.
O que devemos ter em mente é que não era plano de Deus que o homem comesse carne, isso é verdadeiro, bem como, é Seu desejo que a abandonemos, mas afirmar que comer carne é pecado e quem come estará perdido, é algo que a Bíblia não corrobora.
Ellen White em outras passagens afirma que a carne não poderia ser colocada em pé de igualdade com alimentos imundos e entorpecentes, como: o porco, o álcool, o fumo, etc. Leia:
“Chá, café, fumo e álcool precisam ser apresentados como condescendências pecaminosas. Não podemos pôr a carne, os ovos, a manteiga e o queijo em pé de igualdade com esses artigos colocados sobre a mesa. Estes não devem ser postos na frente, como o tema principal de nossa obra. Os primeiros - chá, café, fumo, cerveja, vinho e todas as bebidas alcoólicas - não devem ser ingeridos moderadamente, mas rejeitados.” Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 287.
Perceba que o café (aqui entra toda sustância que contém cafeína, como: refrigerantes, chocolates, etc.), o fumo e o álcool são apresentados por ela como “condescendências pecaminosas”. Ela ainda afirma que a carne, os ovos, a manteira e o queijo não deveriam ser igualmente considerados. Portanto, comer carne não é pecado. Alguns abandonam a carne, mas continuam consumindo refrigerantes, chocolates e outras substâncias que, assim como o café, contêm cafeína e são viciantes e entorpecentes, infelizmente estes não estão fazendo a reforma de saúde verdadeira.
Então, já que comer carne não é pecado, porque devemos abandoná-la como alimento?
A resposta para essa pergunta deve ser compreendida à luz do Grande Conflito. Ellen White afirmou:
“Manteiga e carne são estimulantes. Isto danifica o estômago e perverte o gosto. Os nervos sensitivos do cérebro são entorpecidos, e o apetite animal fortalecido às custas das faculdades morais e intelectuais. Essas elevadas faculdades, de função controladora, são enfraquecidas, de maneira que as coisas eternas não podem ser discernidas. A paralisia entorpece o que é espiritual e devocional. Satanás tem triunfado por ver quão facilmente pode ele vencer pelo apetite e controlar homens e mulheres de inteligência, destinados pelo Criador para fazer uma boa e grande obra.” Conselhos Sobre o Regime Alimentar, pág. 48.
“Oh! se cada pessoa pudesse discernir essas questões como me foram reveladas, os que agora são tão descuidosos, tão indiferentes à formação de seu caráter; os que imploram condescendência num regime cárneo, nunca abririam os lábios em justificação do apetite pela carne de animais mortos. Tal regime contamina o sangue em suas veias, e estimula as paixões sensuais inferiores. Enfraquece a viva percepção e o vigor do pensamento para a compreensão de Deus e da verdade, e o conhecimento de si mesmos.” Conselhos Sobre o Regime Alimentar, pág. 384.
A reforma de saúde não visa somente a saúde física, como também a espiritual. Uma pessoa que se alimenta de carne tende a ficar com a mente mais fraca ante a tentação. Entretanto, não adianta abandonar a carne e continuar ingerindo outros alimentos que provocam o mesmo resultado.
Os antidiluvianos foram incapazes de discernir entre o bem e mal devido à condescendência com o apetite (Mateus 24:37-39). Dessa forma Cristo disse que aconteceria nos últimos dias. Por esse motivo devemos colocar nosso apetite em sujeição à vontade de Deus. O Conflito acontece em nossa mente, e aquilo que comemos pode interferir em nossa decisão.
“O alimento cárneo também é prejudicial. Seu efeito, por natureza estimulante, deveria ser argumento suficiente contra o seu uso, e o estado doentio quase geral entre os animais torna-o duplamente objetável. Tende a irritar os nervos e despertar as paixões, fazendo assim com que a balança das faculdades penda para o lado das propensões baixas.” Educação, pág. 203.
No texto acima Ellen White diz os motivos para abandonar o alimento cárneo:
1. Ele estimula as propensões baixas. Isso significa dizer que quem come carne, apesar de não ser pecado comê-la, está mais tendencioso a pecar do que aquele que mantém um regime dentro dos padrões da reforma de saúde.
2. Os animais estão, a cada dia que passa, sendo acometidos por doenças que só prejudicam a saúde do homem, isso acontece devido aos hormônios e medicamentos que o animal deve ser submetido para ser abatido e gerar lucro aos criadores. Exemplo: antes dos hormônios uma galinha precisava, no mínimo, de seis meses para ficar pronta para o abate, hoje, com 45 dias ela alcança peso suficiente e é abatida. Além dos hormônios “... o que confere maior peso e tamanho às aves criadas para abate, em menor tempo, resulta de manipulações genéticas, práticas alimentares programadas e confinamento. Esse desenvolvimento acelerado tem como resultado maior rentabilidade para o produtor e menor preço para o consumidor”. Dr. Manfred Krusche, Revista Vida e Saúde (Série Especial, N.º 01, Vegetarianismo), pág. 4.
Além dessas objeções, devemos levar em consideração também os maus tratos a que os animais são submetidos. Exemplos:
- Galinhas: “A vida dessas aves é mesmo miserável. Passam a maior parte dela em gaiolas apertadas, com 18 horas de luz artificial acesa, por dia. O objetivo é que não durmam e comam o máximo possível uma comida que não lhes agrada. Os bicos são cortados para que não se matem nem cisquem.” Dra. Sônia T. Felipe, Revista Vida e Saúde (Série Especial, N.º 01, Vegetarianismo), pág. 20.
- Bois e Vacas: “O transporte de um lado para o outro é feito em condições miseráveis. Viajam em pé, sem comer, por dias e, se porventura se deitam, são forçados a levantar por ferrões pontiagudos. Na hora de morrer levam um tiro de pistola de ar comprimdo na testa. Desacordado, mas ainda vivo, o animal é erguido por um pata traseira e outro funcionário do matadouro lhe corta a garganta. O animal deve estar ainda vivo para que o sangramento seja o mais completo possível. Como ainda existem milhares de matadouros clandestinos e sem fiscalização em nosso país (calcula-se em 50%), o abate de bois e vacas a marretadas ainda é particado apesar da proibição.” Dra. Sônia T. Felipe, Revista Vida e Saúde (Série Especial, N.º 01, Vegetarianismo), pág. 21.
O pecado está na condescendência com o apetite. Não devemos fazer de nosso estômago um deus, como afirmou Paulo a respeito do inimigos da cruz de Cristo: “Quanto a estes, o seu destino é a perdição, o seu deus é o estômago e têm orgulho do que é vergonhoso; eles só pensam nas coisas terrenas.” Filipenses 3:19 (NVI). Em Romanos, Paulo é ainda mais claro: “Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites...” Romanos 16:18 (NVI).
A condescendência com o apetite é o motivo de muitos ainda estarem comendo carne. Muitos não se veem sem esse ingrediente em sua mesa. Se esse é o seu caso, ore a Deus e peça ajuda dos céus para vencer seu apetite, pois quem se deixa ser vencido por ele, comete pecado. Quando o povo de Israel desejou comer carne no deserto, muitos foram mortos, mas não porque comeram carne e sim por que a cobiçaram, o que levou eles a murmurem contra Deus por causa do maná, desejando as panelas de carne do Egito, fazendo do seu apetite um deus (Números 11:4-35), eles eram intemperantes. Lembremo-nos de que eles não desejaram só a carne, mas também verduras, frutas, etc. (Números 11:5 NVI). É justamente da intemperança que devemos fugir.
Muitos deixam de comer carne, mas continuam agindo com glutonaria. Não são temperantes. Não sabem controlar o apetite, mesmo que esteja em sua mesa somente alimentos saudáveis. Comer comida vegetariana em demasia, sem controle, sem temperança, também constitui pecado.
“Sobrecarregar o estômago é um pecado comum, e quando se usa demasiado alimento, todo o organismo é sobrecarregado. A vida e vitalidade, em vez de aumentar, diminuem. É assim como Satanás planeja. O homem utiliza suas forças vitais no desnecessário trabalho de cuidar de excesso de alimentos... A intemperança no comer, mesmo que sejam alimentos saudáveis, terá efeito danoso sobre o organismo, e embotará as faculdades mentais e morais.” Conselhos Sobre o Regime Alimentar, pág. 131.
“Comer menos é fator de longevidade comprovado cientificamente. Numa experiência com ratinhos dirigida pelo cientista Ron Hart para a Food and Drug Administration, órgão que controla a área de alimentação e remédios nos Estados Unidos, os que comiam 70% menos calorias viveram 50% a mais do que os obesos. Isso representaria 32 anos a mais na média brasileira de longevidade masculina, que é de 64,8 anos... Uma iniciativa saudável é substituir o jantar por frutas, o que está intimamente ligado ao fator descanso.” Dr. Elias Oliveira Lima, Revista Vida e Saúde (Série Especial, N.º 01, Vegetarianismo), pág. 29.
Elias foi alimentado com carne por que já havia vencido o apetite, ele era um homem temperante em todas as coisas (Ver Vidas que Falam, MM, 1971, pág. 273). Essa atitude deve fazer parte da vida de todo aquele que deseja herdar a salvação. O que precisamos vencer é o apetite, esse é o nosso inimigo.
“A força dominante do apetite demonstrar-se-á a ruína de milhares quando, se houvessem triunfado nesse ponto, teriam tido força moral para ganhar a vitória sobre qualquer outra tentação de Satanás. Os que são escravos do apetite, no entanto, deixarão de aperfeiçoar o caráter cristão. A incessante transgressão do homem através de seis mil anos, tem trazido em resultado doença, dor e morte. E, à medida que nos aproximamos do fim do tempo, a tentação do inimigo para ceder ao apetite será mais poderosa e difícil de vencer.” Conselhos Sobre o Regime Alimentar, pág. 59.
Quanto àqueles que não têm condições de manter um regime vegetariano ou ovolactovegetariano, seja pelo lugar onde vivem ou por condições financeiras, devem eles se alimentar daquilo que é menos prejudicial.
Exemplo: Se em sua cidade existe disponível somente a aquisição de peixe, galinha ou carne bovina, prefira o peixe. Se há somente galinha e carne bovina, escolha a galinha (de preferência a criada com grãos, que é mais saudável). É esse o princípio que deve ser obedecido: alimentarmo-nos daquilo que menos nos enfraquecerá física, mental e espiritualmente. Para aqueles que não possuem boas condições financeiras, quero lembrar que a proteína de soja tem se mostrado com um valor mais acessível do que os exemplos acima, podendo ser encontrada em qualquer supermercado.
Não vamos aqui falar da culinária vegetariana, pois existem muitos sites que poderá ajudá-lo no preparo de alimentos saudáveis para você e sua família. Clique aqui e vejam alguns.
Na verdade o nosso problema é acreditar que somente a carne pode fornecer nutrientes para o nosso corpo, este é um engano.
“Quanto à melhor alimentação, a regra seria fazer a melhor seleção possível dos alimentos disponíveis em determinado momento e circunstância. A carne vai gradativamente deixando de ser um alimento seguro para quem se preocupa com a própria saúde e com a saúde da família. Nunca foi a melhor nutrição para a raça humana, e devido ao avanço das doenças nos próprios animais, é menos seguro atualmente depender dos animais para nossa sobrevivência.” Dr. Manfred Krushe, Revista Vida e Saúde (Série Especial, N.º 01, Vegetarianismo), pág. 6.
Conclusão
Comer carne não é pecado, desde que não esteja condescendendo com o apetite, mas apenas por não possuir outra opção devido à localidade que se reside ou que se encontra, ou devido à condição financeira de cada um, contudo, devemos fazer planos para abandoná-la definitivamente.
Devemos fazer esforços para alimentarmos daquilo que é menos prejudicial, e não daquilo que agrada ao paladar.
Não adianta deixar de comer carne e continuar alimentando-nos de outras substâncias que provocam os mesmos males e até pior do que os causados pela carne.
Deve-se fazer esforços para abandonar a carne como alimento devido à grande prova que iremos enfrentar, pois aqueles que vencerem ao apetite, bem como, aqueles que abandonaram a carne como alimento, estarão mais preparados para vencer no dia da grande tribulação, que parece está chegando. Quanto àqueles que não abandonarem a carne como alimento e não vencerem ao apetite, estarão mais fracos físico, mental e espiritualmente, podendo sucumbir ante a tentação.
Se quisermos levar uma vida vitoriosa em Cristo deve-se primeiramente vencer o apetite. Foi aqui que Adão falhou e foi aqui que Jesus venceu. Portanto, é o apetite o primeiro inimigo a ser vencido (Ver No Deserto da Tentação, Ellen White, Casa Publicadora Brasileira).
Quanto àqueles que acham que já faz muito abandonando o consumo de animais imundos, leia isto: “Os adventistas têm levado a sério a lei dos animais puros e impuros, e consideram-na como o mínimo do que o Senhor requer de nós em relação a uma alimentação apropriada.” Ángel Manuel Rodrígues, Revista Adventist World, Julho 2010, pág. 26. Essa atitude é apenas o mínimo que podemos oferecer, Deus espera mais de Seu povo. E que tal começarmos seguindo o seguinte conselho:
“O vegetarianismo tem se tornado popular ao redor do mundo por vários motivos: ético, ecológico, religioso e até narcisista. Talvez esse seja o momento certo para reafirmar o ideal divino, evitando-se o uso de carne em reuniões oficiais da igreja (reuniões de obreiros, “junta-panelas” na igreja, etc.) e, sempre que possível, não utilizando em nossa mesa.” Ángel Manuel Rodrígues, Revista Adventist World, Julho 2010, pág. 26.
A escolha é inteiramente nossa.
Resta Uma Esperança